Está cada ano mais difícil colecionar o álbum de figurinhas da Copa do Mundo. Foi a primeira vez em todas as edições da copa que estamos sendo obrigados a parcelar os pacotinhos em 10 vezes sem juros com a primeira só pra agosto.
O pior é você pagar R$ 4,00 num pacotinho com 5 figurinhas, e nele vir repetida um reserva da Tunisia que nem convocado vai ser.
Esses dias o presidente Bolsonaro foi entrevistado pelo William Bonner. O entrevistador perguntou um monte de coisa mas esqueceu de perguntar o mais importante, que é sobre o aumento de preço nas figurinhas da copa.
Semana passada vi um quase adolescente dizendo que já comprou o álbum pronto, sim, com TODAS as figurinhas já coladas. O desgraçado não se deu ao trabalho nem de colar. Eu juro que fico muito triste com essa geração imediatista. “Ah, mas sai bem mais barato”. Sim, mas qual a graça? A emoção é abrir o pacotinho e ficar feliz com uma que não tem, ficar puto com uma repetida, se equivocar colando um jogador errado porque a bandeira do país é parecida, sair desesperado pra trocar com qualquer desconhecido que encontrar na rua, etc.
Essa nova geração não sabe o que é sofrer. Na minha infância a gente colava as figurinhas com cola, e colar torto era um caminho sem volta. As paginas do álbum ficavam todas grudadas, não dava pra saber se era um álbum da copa ou uma revista playboy.
Tem também a criança mimada que não quer trocar porque acha que a figurinha brilhante vale mais que as outras. Aí a gente tem que agredi-la enquanto o pai não está olhando. A figurinha que deveria valer mais é a do goleiro Alisson, que é lindo (me disseram).
Trocar figurinha é demais. Tem uns locais que reúnem crianças, adolescentes, mães, idosos, etc. Fica todo mundo pra lá e pra cá desesperado por figurinha. O lugar vira uma espécie de cracolândia dos cromos.
“Ah, mas eu acho um absurdo gastar dinheiro com figurinha”. Diz o cara que gasta R$ 11,00 num maço de cigarros. É uma questão de escolhas. Você pode abrir um pacotinho de figurinhas e achar o Cristiano Ronaldo, ou você pode abrir um maço de cigarros e achar um enfisema pulmonar.
Na banca sempre aparecem os adultos que tem vergonha de dizer que colecionam.
– Moço, me vê vinte pacotinhos.
– Ok.
– Não é pra mim, é para o meu filho.
– Ta bom.
– Sério mesmo, eu não curto essas besteiras.
– Tudo bem.
– Eu compro porque ele gosta dessas coisas.
– Ja entendi.
– Moço, meu filho também quer saber se você tem pra trocar.
Tem também o pai que compra para o filho mas não deixa a criança colar.
– Pai, deixa eu colar uma.
– Não!
– Por favor.
– Você não sabe colar.
– Sei sim, só uma.
– Ta bom, mas só uma.
…..
– Olha aí, falei, toda torta, moleque burro do caramba.
– Desculpa, pai.
– E eu nem sou seu pai, sai daqui.
Eu que tenho TOC fico puto com quem cola torto. A pessoa não tem o mínimo de respeito com o álbum. Tem que ter cuidado, principalmente com a do Neymar porque se colar de qualquer jeito é capaz dele cair e sair rolando.
Todo mundo sabe que quando falta um jogador do Japão ou da Coréia a gente sempre da um migué e cola repetida porque sabe que ninguém vai reparar. Jogador oriental é foda porque na hora de trocar a gente nunca sabe se já tem ou não.
E esse ano tem as tais figurinhas especiais. Inclusive tem gente vendendo algumas por mais de R$ 10.000. É muito absurdo. Dependendo do jogador da pra você compra-lo por esse valor.
– Beleza, Thiago Silva, você agora é meu, lava minha louça.